Caminhada da Camomila: beleza miúda e ativação do olfato em Mandirituba/PR

Tempo frio e nublado e aroma de camomila em 12km. Inusitado!

Colocar o olfato para funcionar fazendo trilha no meio de campos com flores brancas e amarelas, foi um exercício sinestésico muito diferente daquele de cobrir o nariz por poeira ou cheiro ruim enquanto caminha no cerrado.

Várias vezes parei durante o percurso e disse a mim mesma: Eita, que cheiro suave de camomila!

Mas foi preciso colocar foco e as narinas para funcionarem para experimentar o sentido do olfato. O cheiro é suave, se intensifica com a brisa e logo some.

No Circuito da Camomila, encontrei sobe e desce que lembra ondas suaves do mar em pequenas elevações dentro das propriedades. Também encontrei lama, caminhando sob as marcas de trator na terra para observar a paisagem do Paraná – araucárias.

No meio daquelas ondulações, lá estava ela (não em abundância) a convidar a fazer de seus braços uma rede para contemplar as estrelas e a lua, mesmo que não seja a azul, do dia 30 de agosto de 2023.

Nesse sobe e desce morro, o que havia ao meu redor eram os pés de tronco fino e aquela florzinha pequenina de folhas brancas e miolo amarelo. Quão singela!

A altura maior dos pés que encontrei foram de 50 cm., roçando o joelho. Muitos desses campos por onde passei vão virar chá, produtos estéticos e para relaxamento. Quem sabe eu mesma não use, no futuro, o que se colhe agora em setembro! Mandirituba/PR é um dos polos produtores nacionais de camomila.

Nessa caminhada, conheci pessoas que reafirmaram em mim que a solidariedade, a luta por direitos e a cumplicidade entre amigos é o que nos faz humanos! A sincronicidade me fez conhecer Wagner Vieira, que me deu carona logo às 6h30 da manhã até o ponto de encontro – Igreja da Colônia do Retiro. Mal sabia eu que ele era o secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura que dá suporte à Caminhada. Perguntei por que não caminhou: “não tenho preparo para isso, não”, me disse, sorrindo, timidamente. Foi gentil e me arrumou uma carona do campo à vila para eu pegar o ônibus de volta a Curitiba.

Também me encontrei com Vera Luísa Gonçalves, que me contou sua aventura na Marcha das Margaridas em Brasília, dias 16 e 17 de agosto. Ela fala com propriedade quando perguntei o motivo para ir à marcha. “Ora, lutar por igualdade”, me diz, enfática, lembrando a história de machismo do avô em repudiar a mãe com sete filhos, quando o marido abandonou a família. Vera é presidente da cooperativa Coopervida (da semente ao prato) e conta orgulhosa que, após dois anos, os pequenos agricultores, maioria mulheres, têm o que comer cultivando produtos agroecológicos. “Éramos 20, hoje somos 40, os pequenos juntos se tornam grandes”, explica os avanços já conquistados da cooperativa.

Dantas, o poeta, é produtor de sementes de orgânicos, apaixonado por filosofia, e esposo de uma das agricultoras da Coopervida. No caminho, contou suas aventuras na Alemanha e Suíça e seus aprendizados numa viagem que foi uma conquista possível por conta de um amigo. Falou de suas impressões sobre a autodisciplina e a civilidade das pessoas e as belezas naturais que viu. No caminho entre pés de camomila, encontrou amigos e até pediu autógrafo a vereador que caminhava.

Troquei conversas e gentilezas com Waldir, tirando fotos um do outro, durante o percurso e comentando sobre o cheiro bom e a beleza simples de um campo de camomila.

Como pai de dois filhos, o centro da conversa foram os jovens e os desafios que eles enfrentam num mundo violento, socialmente injusto e repleto de horas de telas e mídias sociais. Aposentado, tem se dedicado a caminhadas e, durante a que tivemos o prazer de compartilhar, falamos das mudanças que temos à frente de nós como geração prateada: bisnetos não estão no cenário e, com muita sorte, talvez netos.

Éramos mais de mil e 500 pessoas na Caminhada, minha inscrição foi a de número: 1198. Na Feira Manduri, eu comprei balas de camomila. Segundo o ranking do EcoBooking, Mandirituba é a segunda cidade em número de caminhantes no Brasil: em 2023, já somam 8 mil 657.

Serviço:
* A Caminhada Internacional na Natureza – Circuito Camomila – Colônia Retiro acontece no último domingo de agosto a cada ano. É uma das cinco caminhadas oficiais apoiadas pela Prefeitura de Mandirituba/PR, na região. Mandirituba fica a 45km de Curitiba/PR.

* Se quiser fazer a Caminhada e não tem carro ou quer emitir menos CO2, vá de ônibus: Linha G72 Curitiba/Areia Branca de Assis [ida e volta], ponto final da Praça Rui Barbosa, em Curitiba. Paguei 7 reais e levei 1 hora pela rodovia.

* Quando quiser se inscrever, basta fazer usando o EcoBooking.