1º Projeto de Educação Ambiental – Hidroelétrica de Samuel, Porto Velho/RO

Por Mafalda Barbara Mattos da Costa Foto Mafalda

Em 1988 tive a oportunidade de participar do primeiro projeto de educação ambiental (PEA) para uma hidroelétrica. Aliás éramos o primeiro grupo a produzir um RIMA – Relatório de Impacto para o Meio Ambiente – exigido pelo governo. O projeto estava a cargo da Sondotécnica Engenharia e nós formávamos um grupo multidisciplinar onde o PEA estava inserido.

O projeto era de autoria do Prof. João Manso e tinha por objetivo produzir material didático para os diversos grupos que seriam diretamente afetados pela construção da hidroelétrica e, mais especificamente, com a construção de uma barragem com atualmente cerca de 130 km de extensão, que teria a sua água contaminada até o enchimento de todo esse lago. Contaminada por ser água parada e por estar cheia de material orgânico em decomposição.

Em linhas gerais, o Programa de Educação Ambiental estava focado em abordar os principais temas decorrentes da construção dessa barragem para a população diretamente afetada pela proximidade do lago, a fim de diminuir o impacto ambiental provocado pela hidroelétrica.

É importante lembrar que estamos a falar de uma região com forte presença de malária, leishmaniose e febre amarela, doenças provocadas por mosquitos que, por sua vez, se proliferam em águas sujas. E, sem esquecer também, da questão do desmatamento e da fauna da região que foi diretamente comprometida com a existência desse lago. Ora, numa região endêmica, esse fato, por si só, já representaria um aumento das doenças “malária” e “febre amarela” em função da criação de um ambiente ideal para a criação dos mosquitos. Sem falar na destruição de centenas de espécies da flora e da fauna da região, submersos pelo Lago.

Imagem Cartilha Projeto EletronorteO Programa consistia em levantar os temas mais importantes para os habitantes da região em torno da barragem e subsidia-los de conhecimentos e alternativas para minorar esse impacto. De início optamos por abordar os assuntos Saúde – doenças transmitidas por vetores, Fauna, Vegetação, Saúde II – doenças hídrico transmissíveis e transmissíveis por contato, Desmatamento, Qualidade da Água e Enchimento do Reservatório, que seriam abordados através de cartilhas (foto) e filmes adequados aos diversos segmentos sociais selecionados pelo projeto.

A ideia básica era que pelo menos duas pessoas de um agregado familiar recebesse o material didático para que isso criasse uma motivação de diálogo e, por conseguinte, uma mudança de comportamento naquele núcleo. E para isso foram listados escolas, associações de moradores, sindicatos, empresas, hospitais, universidades, igrejas e outras agremiações sociais.

Para a criação de cada tema fomos buscar dados técnicos com consultores especializados e, a partir dessa informação, o material didático começava a ser preparado com o máximo de cuidado para que a comunicação fosse, de fato, eficiente. Para isso, estivemos nos locais para pesquisar as palavras e as gírias locais, os nomes comuns das pessoas para a criação dos nossos personagens, as imagens para servirem de ilustração e, inclusive, as músicas que apareceriam “de fundo” nos filmes. O Programa de Educação Ambiental tinha como prioridade que a informação fosse a tônica mais importante do projeto, isto é, não poderíamos deixar que nenhum fator externo pudesse desviar a atenção do conteúdo proposto para cada um dos temas abordados.

Por exemplo, um desses cuidados foi com a espessura do papel utilizado para as cartilhas dirigidas aos seringueiros e garimpeiros. Precisávamos de um papel mais encorpado porque observamos que a sensibilidade ao tato das pessoas que trabalhavam com as mãos eram menos sensíveis. Ainda em relação ao grupo específico dos garimpeiros, descobrimos que falar do perigo de “morte” ao trabalhar com o mercúrio como agregador do ouro não representava nenhum motivo de temor para aquelas pessoas tão próximas da morte em função da sua atividade. Só quando começamos a abordagem do perigo do mercúrio sobre a impotência sexual é que conseguimos passar a mensagem desejada.

Vê-se hoje que a Comunicação, quando se quer eficaz, abrange mais do que um “expor de ideias” sejam elas escritas ou faladas. Além do conteúdo, a forma – “a roupagem” – com que essas ideias são apresentadas é que também determinam a sua eficácia. Transmitir e encerrar uma forma de comunicação, seja ela escrita ou verbalizada, nada mais é do que isso: saber que ela foi entendida e apreendida e que poderá ser repassada pelos ouvintes e interlocutores como se uma estória fosse!