Comunicação Pública: Campanha Não Desvie o Olhar, trabalho de conclusão de curso (ii)

Justo na interface entre Comunicação e Políticas Públicas, tendo como guarda-chuva Direitos Humanos e as questões da exploração sexual de crianças e adolescentes, Maristela MeloMaristela busca um case para refletir sobre os princípios teóricos do Marketing Social e a prática da gestão de campanhas educativas de escala global. Este post fala do trabalho de Maristela de Melo e sua pesquisa para conclusão do curso de Pós lato senso em Gestão da Comunicação nas Organizações, na sequência de posts sobre orientações concluídas.

Maristela escolheu analisar a campanha pública educativa – Não Desvie o Olhar – veiculada antes e durante a Copa do Mundo de 2014, com foco na prevenção da exploração sexual de crianças e adolescentes em megaeventos esportivos. A mobilização de organizações internacionais tem por base pesquisa realizada pela Brunel University, London (UK), e encomendada pela Child Abuse Programme (CAP) da Fundação Oak com o objetivo de apoiar a tomada de decisão sobre estratégias e campanhas educativas em âmbito internacional.

A campanha Não Desvie o Olhar foi desenvolvida pelo CN/Sesi em parceria com a ECPAT Internacional, que por intermédio de um Termo de Cooperação Técnica, permitiu que a campanha fosse veiculada em 16 países europeus e 6 africanos entre a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014. Imagem Peças CampanhaAlém da parceira internacional, a campanha incluiu parceiros no Brasil como a Frente Nacional de Prefeitos e as 12 cidades-sede da Copa, a rede hoteleira ACCOR e a CCR Nova Dutra. Durante o megaevento da Copa do Mundo, em 2014, o Disque 100 (instrumento da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, de responsabilidade desde 2003 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República) registrou mais de 11 mil violações aos direitos de crianças e adolescentes. Esse volume é 15% superior ao registrado durante a Copa das Confederações em 2013 e engloba diversas violações dentre eles a de exploração sexual.

Para refletir sobre a campanha, sua concepção e estratégias, Maristela realiza entrevistas por e-mail com os gestores que foram agrupados em diversos núcleos, de acordo com o grau de envolvimento deles na campanha: Núcleo Executivo – Núcleo Gestor – Núcleo Acadêmico – Núcleo Parceiros. Ela também buscou apoio teórico nos conceitos e elementos de Marketing Social. Após proceder à análise, cruzando o que havia de comum e de diferente entre essas falas e a referência teórica, Maristela conclui seu trabalho dizendo que:

“… a campanha conseguiu desenvolver bem as ações de comunicações propostas, bem como mobilizar a sociedade em prol da causa. Porém, uma campanha com tamanha magnitude e tendo como idealizadores instituições fortes como o SESI, a ECPAT e a FNP, poderia ter realizado uma pesquisa mais profunda sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes nas cidades sede, realizando uma análise do antes e do depois, pois assim, poderíamos dizer com certeza se a campanha só informou sobre a causa ou se ela realmente mobilizou a sociedade a denunciar. Por último, mas não menos importante, o estudo evidenciou que a realização de campanhas que deem visibilidade ao problema e coloquem na pauta pública o tema da exploração sexual é imprescindível para a construção de uma consciência social coletiva que compreenda crianças e adolescentes como sujeitos de direitos em condição peculiar de desenvolvimento, que necessitam da proteção e do cuidado do Estado, da família e da sociedade.”

Como o marketing e os temas sociais podem ser bons amigos

Por Virna Limongi

Virna Limongi_rosto Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, o marketing e as questões sociais podem conviver em plena harmonia. O resultado dessa aproximação é o desenvolvimento de programas e iniciativas que trabalham a mudança de comportamento de um determinado grupo de pessoas.

É disso que trata o Marketing Social. Essa área específica do marketing se dedica a estudar questões que requerem a atenção pública. Compartilho alguns exemplos: uso de drogas, sedentarismo, obesidade, violência contra as mulheres, desperdício de água, dentre outros.

A diferença primordial entre um e outro está na abordagem. Enquanto que o marketing tradicional foca no desenvolvimento de estratégias que visam a venda de um produto ou serviço, o Marketing Social mira na mudança de comportamento do público-alvo. Não no comportamento de compra, mas na adoção de uma atitude ou prática que promova um bem estar social.

As ferramentas do Marketing Social

Como os enfoques são diferentes, o marketing social conta com seu próprio arsenal de ferramentas, chamados de 6P’s do marketing social. São eles: produto social, preço de troca, ponto de distribuição, promoção, público adotante e beneficiário, e por fim, o pessoal.

A combinação dessas ferramentas é o que vai permitir o desenho de um programa que busca trabalhar o consumo consciente de água, por exemplo. Em meu projeto de conclusão da especialização em marketing fiz um estudo de como o marketing social foi utilizado em um programa do governo sobre o uso de crack.

Formas de trabalho diferentes

O resultado, que ainda tenho visto nos dias de hoje em outras iniciativas, é uma diferença notória entre o modo de trabalho de quem está inserido na área de marketing social e os gestores governamentais.

Enquanto que para os primeiros o foco está na adoção do comportamento, para os segundos a atenção maior está na prevenção. O que traz uma abordagem mais ideológica e menos prática para os programas federais.

A pesquisa pode ser acessada aqui